A 61ª Assembleia Geral da CNBB, acontece de 10 a 19 de abril deste ano no Centro de Eventos Padre Vítor Coelho de Almeida no Santuário Nacional de Aparecida (SP). O encontro inclui o tema central, outros três temas prioritários, assuntos que serão tratados em razão da previsão estatutária e outros 18 temas referentes à evangelização no Brasil e à vida da CNBB
Para inspirar as atividades da Campanha Missionária, foi lançada a arte oficial que vai animar o mês missionário em toda a Igreja no Brasil e que terá o lema “Ide, convidai a todos para o banquete”, frase inspirada no texto de Mateus 22,9 e escolhida pelo Papa Francisco. O tema será “Com a força do Espírito, testemunhas de Cristo”
Entre os assuntos em pauta esteve a partilha dos regionais, a organização da Comissão Missionária da CNBB, o Projeto Igrejas Irmãs e o Programa Missionário Nacional. A atividade antecede a Assembleia do Conselho Missionário Nacional (COMINA), que inicia com a celebração eucarística na noite desta sexta e se estende até domingo, 17 de março

ARTIGOS DOS BISPOS

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

 

 

“Vós ma: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (cf. Mt 23,8).  

A Campanha da Fraternidade permeia ao longo das cinco semanas da Quaresma, e orienta todo o povo de Deus a se abrir mais ao amor com o próximo, com Deus e a cuidar mais do ambiente em que vive. A Campanha da Fraternidade ajuda os fiéis a viverem bem o tempo quaresmal, junto com as práticas espirituais propostas para esse tempo que são: oração, jejum e caridade. A Campanha da Fraternidade é uma forma de todos nós colocarmos em prática a caridade, dando mais atenção ao próximo e a realidade que nos cerca. Temos a grande missão de contagiar a sociedade com a fraternidade. Nestes tempos de polarização e ódios cheios de guerras somos chamados a viver a fraternidade cristã e ser sinal para o mundo de que aqueles que Deus criou podem conviver em paz. 

No Domingo de Ramos acontece a Coleta Nacional da Solidariedade, que é o gesto concreto da Campanha da Fraternidade, ou seja, é uma forma de exercermos a caridade e vivenciarmos concretamente aquilo que nos pede o tempo quaresmal. Para essa coleta, há um envelope próprio com o logo da Campanha da Fraternidade deste ano, os envelopes são encaminhados para as paróquias e podem ser retirados no quinto Domingo da Quaresma, e serem levados para a coleta no Domingo de Ramos.  

Sejamos de fato solidários e contribuamos com a Coleta da Campanha da Fraternidade. A coleta arrecadada nesse dia não fica para a Igreja, mas é destinada ao Fundo Diocesano e Nacional de Solidariedade, que contribui para a promoção da dignidade humana e tem o compromisso com os pobres e a vida em plenitude.  

Do total arrecadado na Coleta para a Solidariedade, 60% ficam na própria diocese e é gerido pelo Fundo Diocesano de Solidariedade (FDS) com o objetivo de apoiar iniciativas e projetos locais. Os outros 40% compõem o Fundo Nacional de Solidariedade (FNS), que é administrado pelo Departamento Social da CNBB, sob a orientação do Conselho Gestor da CNBB. Muitos projetos são contemplados. Portanto, o dinheiro arrecadado não fica na paróquia ou com o padre, mas é encaminhado para quem precisa, por isso, sejamos generosos nessa coleta do Domingo de Ramos.  

Vale recordar que a Campanha da Fraternidade termina no domingo de Ramos, mas o tema que a motiva é válido sempre. O tema da Campanha desse ano como já mencionamos é: “Fraternidade e amizade social”, ou seja, devemos voltar o nosso olhar para o próximo não somente enquanto durar a Campanha da Fraternidade, mas ao longo de todo ao vida. Temos que tratar todos bem sempre, ajudar o próximo sempre, estender a mão e alimentar aquele que tem fome. E, ainda, respeitar e amar o meio ambiente.  

Os bispos, padres, diáconos, e líderes de comunidade, são os principais motivadores das comunidades para que façam a doação e para que a Campanha da Fraternidade seja colocada em prática. Deve ser fruto de nossa penitência quaresmal de jejum e abstinência. Eles também são os primeiros que devem fazer a doação e explicar o destino que o dinheiro doado terá. Que possamos enxergar no próximo o rosto do próprio Cristo e estender-lhe a mão. Todo ser humano tem direito a vida digna.  

Se porventura os fiéis não puderem fazer a doação no Domingo de Ramos podem fazer ao longo do ano, seja em sua paróquia ou em outra, seja doação em alimento ou em dinheiro. Com certeza em sua paróquia existe a pastoral social, pois a paróquia deve atender muitas famílias carentes, ajudando com cesta básica, com roupas ou com kit de higiene.  

A Campanha da Fraternidade desse ano nos motiva a olharmos com mais carinho para as necessidades do próximo, por isso, é sempre tempo de nos importarmos com o outro e oferecer a nossa ajuda. Se partilhamos entre nós na Igreja o alimento espiritual que é a Eucaristia, devemos partilhar entre nós também as necessidades materiais.  

Estender a mão ao próximo é ir de encontro com o Evangelho e com aquilo que pede Jesus, desprezar o próximo é ir contra o Evangelho e uma incoerência para nós cristãos. Portanto, procure ajudar a pastoral da caridade social de sua paróquia e doe roupas, alimentos, ou até mesmo doe dinheiro para que eles possam comprar o alimento para compor a cesta básica dessas famílias. Sejamos generosos e vivamos o Evangelho ao longo de todo o ano. 

Por fim, a Campanha da Fraternidade é um modo da Igreja particular no Brasil viver a Quaresma. Somos convidados a refletir sobre o tema apresentado cada ano e como poderemos fazer algo para melhorar aquela situação, esse ano por exemplo, como podemos acolher melhor o nosso próximo. A Campanha da Fraternidade não deixa de ser um exercício quaresmal em que somos convidados a nos despojar de nós mesmos e nos atentar as necessidades do próximo.  

Que possamos dar a nossa contribuição no dia da coleta da solidariedade (domingo de Ramos) para ajudar a tantos irmãos que precisam do nosso apoio. A Campanha da Fraternidade é expressão de comunhão, conversão e partilha e ajuda a cada um a ter o espírito de solidariedade. Tenhamos em nós os mesmos sentimentos de Cristo, amando como Ele amou. 

 

 

Cardeal Sergio da Rocha 
Arcebispo de Salvador (BA)

 

A Campanha da Fraternidade teve o seu início, há 60 anos, na Igreja Católica, mas por suas finalidades e temas, tem contado com uma grande participação de instituições da sociedade civil, escolas, meios de comunicação, órgãos públicos e comunidades eclesiais. Pela natureza da própria fraternidade com a sua dimensão social, a Campanha vai muito além do âmbito da Igreja Católica. Os graves problemas sociais e os desafios pastorais constados no âmbito de cada tema exigem muito diálogo, convivência fraterna e ação conjunta. 

A Campanha não se restringe ao âmbito das celebrações ou orações, nem mesmo do estudo ou reflexão, embora sejam sempre muito importantes. Ela deve ser concretizada através de iniciativas pessoais e comunitárias que promovam a fraternidade nas diversas situações e ambientes, contribuindo para a construção de uma sociedade alicerçada no amor, na justiça e na paz, segundo o querer de Deus. Cada Campanha quer ajudar a viver a fraternidade não somente na esfera pessoal, mas também nos âmbitos comunitário e social. Neste ano, o tema é “Fraternidade e Amizade Social”, inspirada na apreciada encíclica Fratelli Tutti (Todos Irmãos), do Papa Francisco, publicada em 03.10.2020. Podemos afirmar que se trata de uma Campanha sobre a própria fraternidade, na perspectiva de uma “fraternidade sem fronteiras” ou da “amizade social”, que o Papa Francisco enfatizou na encíclica “Fratelli Tutti”. A expressão “amizade social” é explicada pelo próprio Papa, conforme o Texto-Base (n. 16), podendo assim ser resumida: “o amor que ultrapassa as barreiras da geografia e do espaço”, “fraternidade aberta, que permite reconhecer, valorizar e amar todas as pessoas, independentemente de sua proximidade física”; “é um amor desejoso de abraçar a todos”; “é o amor que se estende para além das fronteiras”.     

O lema que ilumina e orienta a reflexão e a ação é sempre um trecho da Bíblia. Neste ano, “Vós sois todos irmãos e irmãs”, conforme o Evangelho segundo Mateus (Mt. 23,8). O mundo de hoje, marcado por tantos conflitos, necessita de gente disposta a percorrer o caminho da fraternidade, da amizade e do respeito, para alcançar a paz. Embora a temática da Campanha seja vivida além da Quaresma, ela acontece, de modo especial, durante o período quaresmal. Uma das principais exigências da espiritualidade quaresmal é justamente o amor fraterno, com suas várias expressões. A Quaresma é vivida, hoje, de modo bastante diferente do passado, num novo contexto sociocultural. Contudo, em meio às mudanças culturais e religiosas, permanece o seu sentido maior enquanto tempo de preparação para a Páscoa por meio da oração, da penitência e da caridade. Deste modo, a Campanha da Fraternidade torna-se um meio privilegiado de vivência da Quaresma, através de gestos concretos de amor fraterno, de solidariedade e partilha. 

 

*Artigo publicado no jornal Correio, em 26 de fevereiro de 2024. 

Dom Walmor Oliveira de Azevedo
Arcebispo de Belo Horizonte (MG) 

 

Cada processo educativo vincula-se a uma escola, com configurações e dinâmicas pedagógicas específicas, adequadas ao atendimento de diferentes propósitos. Quando se considera a urgência de se construir uma sociedade mais participativa e solidária, reconhece-se a necessidade de uma escola específica, sublinhada pela Igreja Católica neste horizonte quaresmal: todos devem se matricular na escola da amizade social, para desenvolver competências que ultrapassem aquelas alcançadas por uma formação técnica ou por disciplinas dos mais diferentes campos científicos. A Carta Encíclica Fratelli Tutti, do Papa Francisco, reúne indicações preciosas para a escola da amizade social, nominando, inclusive, a sua disciplina central: “Coração aberto ao mundo inteiro”.  É um desafio avançar no aprendizado dessa especial disciplina, considerando tantas relações estreitadas por preconceitos, discriminações, por mesquinhez na consideração do semelhante – sobretudo daqueles que se diferem pelos modos de pensar e agir.  

Cultivar “um coração aberto ao mundo inteiro” é ciência e, também, progredir na vivência da espiritualidade. O ponto de partida é o princípio inegociável e pétreo de que todos são irmãos e irmãs. Esse princípio não comporta abstrações, exigindo o seu respeito diário, em gestos e palavras. Não é fácil agir a partir da consideração de que todos são irmãos e irmãs, quando rancores, ressentimentos, inveja e ânsia por disputas são hospedados no coração. Essas emoções banem almejadas grandezas da alma, que deveria ser solidária e promotora de reconciliação. Ao invés de indiferença, cada cidadão precisa se sensibilizar diante da realidade de seu semelhante, exercendo a solidariedade a partir do sentido efetivo da corresponsabilidade. Isto significa partilhar os sofrimentos e as penúrias que ameaçam a vida do próximo, especialmente daqueles que integram o mapa da fome, as vítimas de guerras ou de migrações forçadas. A fraternidade universal é uma cartilha com princípios e compromissos essenciais para a edificação de sociedades capazes de avançar na promoção do desenvolvimento integral e onde se pode viver com dignidade.  

A inquietação diante da dor de cada irmão e irmã precisa ocupar lugar central no núcleo da consciência de todos, para que não se alastre, ainda mais, a globalização da indiferença. A indiferença aprisiona o ser humano na inércia, tornando medíocre a intuição para soluções de problemas e desafios existenciais. Para superá-la, é preciso atenção ao respeito de direitos inerentes à dignidade humana, que incluem a observância das condições básicas para que cada pessoa possa se realizar nas perspectivas vocacional e profissional.  Deve-se considerar as urgências básicas da grande maioria da população, com apurada sensibilidade social, para alimentar posturas cidadãs capazes de amadurecer posicionamentos políticos, tornando-os impulsionadores de políticas públicas capazes de gerar inclusão social. Sem avanços no exercício da solidariedade, a civilização contemporânea estará permanentemente ameaçada com riscos de apartheids, convulsões sociais e o crescimento das diferentes formas de violência.  

O acolhimento do próximo significa investir na cultura do cuidado, uma lição fundamental que precisa ser aprendida cada vez mais. A cultura do cuidado é simples, mas, ao mesmo tempo, tem uma força redentora, a partir do exercício da solidariedade. Há muitas formas de se exercer a cultura do cuidado. Uma delas é a capacidade de acolher o semelhante, na sua singularidade, oferecendo-lhe a possibilidade de desenvolvimento. O caminho para acolher quem é diferente exige avanços no exercício do diálogo, buscando conhecer a alteridade, descobrir suas riquezas e compreender suas perspectivas, valorizando o que cada um tem de melhor. O Papa Francisco orienta buscar ser sempre paciente e confiante no exercício do diálogo, para que as pessoas, famílias e comunidades possam transmitir os valores da própria cultura, enquanto se acolhe o bem das experiências alheias. Assim, pode-se vivenciar um profundo intercâmbio que beneficia grandemente países, sociedades, famílias e pessoas.  

O Papa Francisco indica também a necessidade de um ordenamento jurídico, político e econômico para incrementar o desenvolvimento solidário de todos os povos. O fermento desse ordenamento é a gratuidade – capacidade de fazer o bem, sem almejar receber algo em troca. O Papa afirma, categoricamente, que quem não vive a gratuidade fraterna transforma a própria existência em um comércio cheio de ansiedades, por buscar sempre medir o que oferece e o que recebe em troca. Ao invés de sempre almejar uma conquista, deve-se considerar que cada pessoa é um tesouro. Prescindir dessa consideração é anular toda possibilidade de um diálogo capaz de reparar feridas e de resgatar convivências. Na verdade, só o cultivo do amor permite avanços nos diálogos redentores. Um amor que está alicerçado para além de afinidades.  

Compreende-se que a amizade social e a fraternidade universal são duas alavancas essenciais e inseparáveis na reconstrução da sociedade contemporânea. É importante valorizar e respeitar cada ser humano, cultivando o amor libertador e construtivo. Conta muito cultivar intercâmbios sadios, remédios para feridas existenciais, capazes de promover reconciliação fraterna. Importa debelar mágoas pelo desenvolvimento da capacidade de perdoar. O horizonte cristão reza que o perdão de Deus-Pai está condicionado ao perdão oferecido aos irmãos e irmãs. E se exerce o perdão quando há respeito pelo semelhante, considerando a dignidade que cada pessoa partilha. Urgente é matricular-se, permanentemente, na escola que estimula o desenvolvimento das competências humanísticas, investindo na amizade social, alavanca para a fraternidade universal. Trata-se de investimento para alcançar um mundo melhor. Todos engajados nesta escola de competências essenciais, uma semeadura pela esperada colheita do bem e da justiça.  

 

 

 

 

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