PUC-Rio promove ações ligadas à Campanha da Fraternidade 2024 junto ao Núcleo de Estudo e Ação Mundo da Juventude

O que se entende por amizade social? A pergunta ecoou por toda a Universidade trazendo conceitos e reflexões no lançamento da Campanha da Fraternidade 2024 na PUC-Rio, que recebeu o secretário-executivo de Campanhas da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), padre Jean Paul Hansen.

A campanha nacional foi deslanchada em fevereiro, na sede da Conferência em Brasília, com o tema Fraternidade e Amizade Social e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8); mas na PUC ela teve um sabor especial com a cerimônia organizada pela Igreja do Sagrado Coração (Igreja da Puc) e pelo Núcleo de Estudos e a Ação Mundo da Juventude, o NEAM.

Na cerimônia realizada no último dia 30, no auditório Padre Anchieta, o assessor de imprensa da CNBB e assessor de comunicação da Reitoria da PUC-Rio, padre Arnaldo Rodrigues, cumprimentou os presentes agradecendo a acolhida da Universidade na pessoa de seu reitor, padre Anderson Antonio Pedroso, S.J, e passou a palavra à professora Marina Moreira, coordenadora do NEAM.

Orgulhosa do trabalho de seus alunos, Marina observou que o lançamento na Universidade é uma pequena amostra do que ela é capaz para louvar a Deus em um momento tão difícil do país e do mundo: “mas a gente tem sempre um recado de amor pra trocar com os amigos”, pontuou.

Padre Anderson se dirigiu especialmente aos jovens, lembrando que o propósito da PUC-Rio é propiciar um caminho educativo a quem por ela passar:

– A finalidade é ser um lugar acolhedor, educador. E o NEAM nos lembra que os jovens precisam estar no centro desse acolhimento. Porque para educar, primeiro é preciso acolher, então eu acho que o primeiro ponto é lembrar dessa vocação da Universidade, uma pequena cidade que nos ensina a ser cidadãos; mas não cidadãos de qualquer cidade, cidadãos do Céu. Vivemos na Terra, mas habitados com os princípios espirituais, de convivência humana e fraterna. Falar de fraternidade significa crer que Deus é Pai e somos todos irmãs e irmãos.

O reitor registrou ainda que o momento mostra que o ensino superior deve tirar mais proveito das campanhas da fraternidade, de seus subsídios e de suas experiências, a fim de crescer como comunidade educativa. Sobre o lema de 2024, observou:

– Amigo é aquele que a gente ama, quer bem, mas a campanha dá um salto – não se trata de uma amizade pessoal, mas da amizade social. Como nos inspirou São Francisco de Assis, somos irmãos inclusive de quem pensa e vive diferente de nós. É preciso deixar de lado as diferenças para construir uma amizade que vai além do pessoal e que, depois, pode até se tornar pessoal, uma amizade que se estende à sociedade. Para os jovens do NEAM, é bom lembrar que o mundo de hoje tem três P’s; eles criam uma complicação que vocês vão nos ajudar a vencer: a pós-verdade, ou fake-news, a polarização e o populismo. Agora, embaixo de tudo isso, tem um outro P, que é o pior: é o P da pobreza. Nós temos que lutar contra a pobreza. A PUC tem que ter um compromisso contra a pobreza e não pode ser vista como uma universidade de elite. A PUC é a universidade de excelência e vai continuar sendo, mas, para isso, ela tem que estar engajada na luta contra a pobreza, porque o Rio de Janeiro e o Brasil têm situações que agridem muito a população, especialmente os jovens. Todo projeto que tira o jovem de situações de pobreza, que desenvolve o país, que gera empregos é bem-vindo. Ser irmão do outro é promovê-lo e retirá-lo de situações que o machucam.

Agradecendo o convite recebido, padre Jean Paul Hansen mencionou que uma das coisas que mais o impressionaram, quando assumiu a secretaria de campanhas, foi a adesão da educação católica às campanhas da fraternidade, revelando, em seguida, um pouco de sua história.

Inspirada por um movimento espontâneo de solidariedade do pequeno povoado de Nísia Floresta (Natal, RN) – resultante do empenho de três freiras, da paróquia Nossa Senhora do Ó, em arrecadar fundos para a organização Caritas – a primeira experiência da Campanha da Fraternidade aconteceu na própria Arquidiocese de Natal, por iniciativa do então administrador apostólico, Dom Eugênio de Araújo Sales. No ano seguinte, a experiência foi adotada por outras dioceses da Região Nordeste e, em fevereiro 1964, ampliada para todo o País pelo secretário-geral da CNBB, à época, Dom Helder Câmara.

– Alguém lembra qual foi o lema de 1964? “Lembre-se, você também é igreja”; mas eu gosto de dizer assim: “não se esqueça, você também é igreja!”. A campanha foi lançada na quaresma, mas só em novembro de 1964 que viria à luz a Constituição Dogmática Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, que diria, pela primeira vez, que “a Igreja é o povo de Deus e que todo o povo de Deus é a Igreja”. Até novembro de 1964, quando se perguntava, no catecismo antigo, quem era a Igreja, se respondia “o papa, os bispos e os padres”. Diáconos não. Laicato então, nem pensar – brincou padre Hansen, salientando que a Campanha da Fraternidade já anunciava a boa nova.

De acordo com o secretário, ao pautar determinados temas, a campanha exigiu, ao longo dos anos, posicionamentos da sociedade brasileira que nenhuma outra entidade exigia. Como exemplos, a publicação do Estatuto do Idoso e a criação de um corpus legislativo sobre a questão da água.

– O papa Francisco tem uma série de projetos. Tenho certeza que todos já ouviram falar do Pacto Educativo Global, da Economia de Francisco e Clara e assim por diante. A própria Fratelli tutti com a proposta da amizade social. Todos esses projetos fazem parte de um grande projeto chamado Novo Humanismo Integral e Solidário. O que o papa quer com a economia, com a educação, com a fraternidade, com a ecologia, com tantos outros temas importantes do seu magistério, é construir condições para que o ser humano se entenda integralmente e solidariamente. Para que haja uma nova autocompreensão – esclareceu o padre.

Para ele, as campanhas da fraternidade representam as mais profundas propostas de conversão, em que os seres humanos são desafiados a escolher entre a lógica fratricida de Caim – que eliminou seu irmão Abel na competição pelo agrado de Deus – ou a lógica fraterna de Cristo.

– Caim, antes de eliminar Abel da face da Terra, já o havia eliminado do seu próprio coração. Para mim, essa frase é lapidar, pois quem de nós pode se orgulhar de nunca ter eliminado alguém do seu próprio coração? Aquele dito programa que eu não vou mencionar, que toda semana nos faz pensar em quem vamos eliminar, usa o verbo que preside a lógica de fratricida de Caim. É o verbo eliminar. Nós estamos sendo, às vezes inconscientemente, mas é bom que a gente tome consciência, treinados para eliminar os irmãos. Por que nós não fazemos um programa que pergunte toda semana quem é que nós vamos salvar? – argumentou. E continuou:

– A lógica redentora de Cristo, em oposição a Caim, não resgata só irmão, resgata também as relações sociais desfiguradas ou desconfiguradas. Por isso eu queria, nessa manhã, provocar em vocês a seguinte reflexão. Qual é a sua lógica? Qual é o seu software? Todos nós temos a lógica fratricida, pelo pecado original, mas todos nós, pelo batismo, recebemos de graça a lógica fraterna e redentora de Jesus. A lógica daqueles que se ocupam em salvar, em integrar, em trazer de volta a comunhão, em acolher, em dignificar. Essa é a proposta de conversão, a proposta da Campanha da Fraternidade.

Sobre a Campanha da Fraternidade 2024

Em comunhão com a Carta Encíclica Fratelli tutti, do papa Francisco, inspirada pela vida de São Francisco de Assis, Fraternidade e Amizade Social busca incentivar as pessoas a identificarem situações de inimizade que geram violência e destroem a dignidade dos filhos de Deus; a se inspirarem no Evangelho, que as une como família; e a promoverem o esforço para a mudança interior e comunitária.

“Como irmãos e irmãs, somos convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos como seus filhos e filhas”, disse Francisco em sua mensagem e bênção apostólica.

Com colaboração  da jornalista Renata Rathon – PUC Rio

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